segunda-feira, junho 04, 2007

ver pelos olhos teus

Pela primeira vez... nesse tempo todo eu pude ver, aquel frestinha libertadora que anuncia o alívio. Pude te escutar... sem julgar. Ver a tua dor e sentir a minha... em silêncio para sentir a tua enfim.

Escutei, olhei, respirei. Vi ali esse menino quietinho sempre em busca de si mesmo, cheio de medos, incertezas. Precisando mostrar para si, para os outros. Escondendo a sua dor nesses braços e corpos estranhos sem amor. Sem vida. Puro desejo - de fuga - de vontade de se descobrir e perceber, depois de beijar e gozar nos cadáveres vampirescos de sexo e amor, que só você poderia fazer isso mesmo por si. Pena eu não ter imaginado esse desespero, a angústia e a ojeriza... Pena mesmo eu só ter visto essa sua ilusão quase tão convincente. Pena não ter sentido essa dor, o vazio.

Pena a gente não ter se desarmado antes. E pena você tê-la buscado. Pena eu ser tão insegura, quase como você. Pena eu não ter me perdido na vida e amado loucamente esses corpos solitários nas camas. Pena você não ter sinalizado antes, nem eu. Pena a gente ter tido tanto medo. Pena você ter mentido. Ter deixado a sua intuição de lado e se deixar envenenar por essa mulher... Pena eu ter sucumbido a uma carência e falsa esperança e querer ter voltado pra ele. Pena a gente ter se machucado tanto... Ter se defendido. Ter se escondido...


Pena eu ter lido tudo aquilo. Pena mesmo que quase tudo ali é meia-verdade. Pena eu não ter escutado o meu coração. Pena você escutar pouco o teu. Pena a gente ser tão cerebral. Pena eu ser tão exigente comigo, contigo. Pena não ter tido tempo para respirar e vomitar tantas vezes em ti. Pena a gente se omitir. Pena que eu tenha sido rancorosa. Pena você saber se comunicar tão mal quando fala do coração. Pena eu quase ter deixado te acreditar e querer a gente. Pena você ter quase deixado de dizer.

Pena que a gente caminhou sozinho tanto tempo. Pena que a gente se perdeu. Pena que a gente não controla a própria história. Pena eu ter que conviver com seus ex-amorecos esvaziados. Pena você me enxergar assim tão fraca. Pequena. Pena você ter saído sem mim. Pena você ter tomado tantas iniciativas vazias e doídas. Pena eu ter abandonado essa vontade de acreditar. Pena eu ter demorado a perceber quem você é realmente. Pena eu ter demorado a te entender. Pena mesmo eu ter agredido tanto.

Pena eu não ter conseguido perdoar. Pena você se esconder ainda mais. Pena que tudo isso não tenha começado antes. Pena a transformação demorar a chegar para que isso se transfigurasse nesse amor. Pena eu e você sermos oscilantes. Pena eu ter medo de te perder. Mas bom mesmo, é que eu não tenho o menor interesse em viver sem você. E melhor, é que você não tenha deixado de ser quem é.

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