terça-feira, março 20, 2007

admirável mundo novo

Estive ontem na fábrica da Volks com a escola. Foi uma experiência. Legal a gente ver ao vivo aquilo que a gente tanto fala e ouve falar. Lê, acha que sabe. Histórias e marxismos à parte acredito que aquilo ali me mobilizou a um ponto tal que não tive sono ontem durante o dia. Consegui ficar ligada 13 hs trabalhando direto.

A viagem foi curta, rápida até. COnversava com uma aluna no caminho sobre as intempéries da vida. Essas coisas que os adolescentes gostam de perguntar ao professor porque acha que eles sabem. E que os professores adoram falar também porque acham que sabem. Enfim. Eu conversei um bocadinho com ela sobre isso. E dizia da minha serenidade em relação a algumas coisas na vida. Ela tinha me perguntado se eu - em algum momento da minha vida - era de arrumar briga. Ora, era complicado demais pra responder. Enfim. A gente dá uma resposta semi-ética. Achando que eles não sacam a gente.

Mas o ponto aqui é sacar outras coisas. Eu estive ali por quase duas horas e me perguntava ao andar por aquela fábrica assustadoramente gigante - mesmo! - o que o Sr Huxley tinha sentido ao ver a Inglaterra tomada pelas indústrias. Acho que valeria um café com ele. Um chá.

Nem podíamos respirar por causa do ar. Meus alunos se queixavam de dor de cabeça e mal estar, mas o lixo ali produzido - bem como os demais restos - eram todos "aproveitados". Uma empresa compra o lixo. Achei confortável você se colocar numa posição de passar o problema pra frente. Sem culpa. Afinal, outros enriquecem com você. Era estranho ver o pessoal - inclusive meus alunos - discursando sobre os problemas do meio-ambiente - inclusive eu - e sermos a pequena parcela de 10% de brasileiros que promovem essa meleca. Compramos a maior quantidade de carros, eletrônicos. Usamos (quase) nada de público e desfilamos com ipod, som, roupas bacanudas e uma longa série de etiquetas penduradas em nós. Ainda acho que somos nós que nos dependuramos nelas.

Escutava o louco som daquelas máquinas imensas que muito mais pareciam as sentinelas do Matrix. Braços robóticos imensos. Não havia pessoas em muitos dos locais pelos quais passamos. O medo desse futuro não era mais coisa de Blade Runner ou sci-fi. Aquela fumaça tomava conta de mim. Dos meninos. Eu me angustiava. Queria sair dali mas precisava manter a "postura científica". Francamente...

Uma das minhas alunas me perguntou onde estavam as mulheres que trabalhavam ali. 3. Ao longo de horas caminhando. Todos uniformizados e o barulho enlouquecedor daquelas máquinas. As faíscas de solda me pareciam a única beleza daquele lugar. Pensava nos sujeitos que ficam ali durante horas, dias, meses. Anos. E o que sobra pra eles? Ok, a alienação do capital... nenhum daqueles caras ali veria tão de perto o carro que fabricavam. A única chance de dirigir um desses é para levar ao pátio do estacionamento da fábrica. Ok. Meus colegas revoltados marxistas da FFLCH parecem ter razão aqui. Mas esse não é ponto. O mais maluco, esquisofrênico ali era o deslumbramento do horror. Não há como negar que o ser humano é super inteligente, criativo, etc, etc... Ora... isso não é contestável. Só sai dali com a sensação de que caminhamos deslumbrados - narcísicos - em direção ao nosso cérebro. Poder. Há tanto disso em nós. Mais que as máquinas.

Eu fiquei ali, olhando os alunos. Melancólica. Fiquei pensando nos filhos, netos, em mim. Como a gente é pequeninho diante daquele monstruoso campo de sentinelas. E parece não haver saída de fato... Kilômetros de extensão e uma faixa coroando a matriz... "A fábrica é uma extensão da sua casa. Economize água e energia elétrica". Tomo banho mais curto, sinto-me culpada quando esqueço a luz da sala acesa... e que perigo isso... tomaram conta da minha casa. Nem tinha visto.

Um comentário:

Trovador disse...

Sabe, para aqueles que nunca foram lá, talvez não consigam entender, a sensação que aquele local transmite, me impressiona muito, lembrar daquele lugar, bem como os pátios abarrotados de carros, ninguém ligando por vc estar lá, mas talvez isso aconteça, pois não haviam pessoas lá.

Enfim, lendo me lembrei, e mudo novamente fiquei...