quinta-feira, março 22, 2007

andando por fora

Tenho observado alguns atalhos emocionais pelos quais a gente se apega. Coisa que a psicologia chamaria de defesa... É um movimento engraçado da gente dar a volta por nós mesmos, olhando a paisagem e esquecendo o painel do carro emocional que nos dirige.

Ontem foi assim. A gente se desculpa, pensa demais. Meias-palavras. Esquivas. Foge aqi e ali e entra num campo confortável do argumentar. Me lembrei do fundo do mar e das promessas de vingança. Dói... mas é mais fácil.

Voltei para casa passeando na cidade universitária. Procurei meu caderninho mais uma vez. Fantasiei que o sujeito que lesse aquilo estaria se divertindo muito. Tão sinistra essa sensação. Vi o prenúncio do pôr-do-sol. Estacionei o carro, abri o vidro e desliguei o rádio.

A árvore da usp que eu adorava e era a companheira mais fiel, confidente, não estava lá. Só os tapumes da construção nova... deu um aperto. Voltei para o prédio da História e fiquei olhando as coisas ali do alto da escada. Foi uma sensação esquisita de querer voltar no tempo. Ver o Juliano ali, anos antes de mim. Ver os meus colegas, professores, a Thais que desaparecia gradativamente atrás da praça do relógio. Os meus namoros naquela árvore, agora, soterrados pelo tempo. Nem mais as lembranças dali eu cultivo.

Nostalgia mesmo. Louco como a gente pega esses atalhos e sai da gente, tentando se encontrar. Me deu saudades do Vinícius ontem, um aperto no peito, pontiagudo. A gente conversava tanto ali, naquele lugar. Tantas confidências e tentativas de explicação... desabafos. A vida toma caminhos mesmo muito engraçados. Hoje, não tenho mais aquela árvore, só a foto que tirei dali no meu primeiro ano de faculdade. Há 10 anos. Parece que foi ontem. Em preto e branco. Eu sabia, de algum modo, o que, naquela época eu queria congelar. Tinha até trilha sonora.

Semana passada, indo na casa do Jedi para comer um hot dog ficamos falando dessa árvore. Todo mundo ali tinha experienciado aquela raiz coberta de concreto que tinha o banco mais charmoso da USP. Cada um ali relatou suas vivências. Modestas, mas tão significativas. Rolou até aquela emoção de filme americano: universitários que se encontram anos depois e lembram com saudades as suas aventurazinhas e momentos juvenis... Quase isso. Tomando Coca-Cola. E comendo hot-dog. Com catchup. A gente riu disso depois.

Fiquei com aquela conversa ali no coração ontem e vi o desfile de momentos muito especiais na minha vida. Que se soterravam. Mas dizia antes, eu tenho trabalhado o desapego...e como ele dói. Tenho aqui só aquela foto. Distante, quase desbotada. Comprei um porta-retratos para ela e vou colocar no escritório. Ao lado dos livros de história. Portalzinho para a saudade de uma apegada.

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