terça-feira, março 20, 2007

Humores

Reparei nesses dias como a gente é suscetível a humores. Tenho rido muito. Sozinha, em casa e no carro. Quase me preocupei com isso. Mas ontem, dirigindo de novo na Raposo, lembrei que a dor, a tristeza afundaram naquele navio. E vi a moça que carregava isso flutuando. Maltrapilha. Fez promessas em agonia. E teve medo de cumpri-las quando a hora chegou. O mar não levou ainda. Está ancorada, no fundo. Com algas e aquelas coisas feias do fundo do mar. É tão pesado que ela não pode puxar. E afunda. Afunda devagar até o ponto de esbugalhar os olhos e o mar levar o seu último ar. Desiste. Insiste. E não respira mais.

Ali no fundo. Ela flutua. Sozinha. E faz muito frio. Silencia... O verde das águas mostram aqueles cabelos translúcidos. E os olhos, namorando eternamente os peixes predadores. Eu olhei pra ela ontem. Profundamente. Quis puxá-la de volta, e ela não me via. Buscava ali no fundo do mar alguma coisa que fizesse sentido. E a maré, traiçoeira, levava embora. Pra onde ela não pode mais ir. Flutuava... na sua própria amargura e solidão. Na sua dor, que era ali maior que o mar. E a solidão tomava conta do seu silêncio.

Não tinha mais nada. Ninguém. O descontrole das profundezas é tão maior... e nos faz flutuar.

Estendi a mão. Ela não me via mais. Não queria mais...Não sabia mais das sua força... usou as últimas para fazer juras.

Escutava barulho daquelas águas. E ri, dentro de mim... Que bom que a gente pode deixar algumas coisas para o mar levar.

Nenhum comentário: