Juliano me diz que sou feminista. Mas não. Gosto de discursar. É diferente. Apesar de fazer pesquisa na área de gênero, nunca me considerei feminista. Clara e Gustavo me dizem que sou revoltada. Minha mãe me chama de indignada. Os amigos se dividem entre a personalidade forte (belo termo para te chamar de barraqueira) e a barraqueira mesmo.
Nunca me considerei feminista. Em sua acepção original. Na verdade, sou mais simpatizante das feministas inglesas e americanas do início do século XX do que das mais libertárias dos anos 60. Não sei em que medida a liberdade sexual atende interesses classicamente masculinos. Muito mais do que femininos. Ainda que esses termos estejam em discussão. Muita discussão.
Ontem foi o dia da mulher. Engraçado esse lance de datas comemorativas. Na prática elas devem nos lembrar de eventos importantes para a sociedade, fatos que marcaram as nossas raízes para sempre. Enfim. Nunca fui muito fã dessas coisas. Formação de historiadora à parte, acredito que a gente seleciona, significa demais algumas datas. O dia 22 por exemplo, pra mim. Ganhou dimensões epopéicas. Um dia conto.
Mas voltando. Eu estava na escola e vi um vaso de flores colocado no banheiro feminino. Perguntei à faxineira o que era aquilo e ela me respondeu sorridente que era em homenagem a nós mulheres. As mulheres ultimamente tem se homenageado do mesmo jeito que os homens nos homenajeiam: flores, folga, bilhetes, cartões e mensagens que reforçam a nossa relevância social, beleza, coragem, etc, etc, bla, bla, bla.
Mas fico me perguntando o óbvio. Como ser uma mulher (na acepção plena do termo) no século XXI e atendendo todas, TODAS, as demandas (im)possíveis do comportamento social ocidental, pós-moderno, etc e tal. Ok. Não dá. Me peguei outro dia pirando com a idéia que as mulheres, ao se tornarem modernetes, descoladas, liberais, etc, tem atendido pouco às suas reais necessidades e refletido em suas ações, reflexões, muitas das intenções masculinas. Ok, telavez isso não se aplique a 100% da população feminina. Ainda bem. Mas o fato é que eu mesma não conheço essa quantidade de mulheres. Ainda bem. Ia ser muita discussão de relação, papos filosóficos, besteirol da píor qualidade e vários problemas de TPM ao longo da conversa. Não me refiro a todas nós (existe nós?). Refiro-me a quem se identificar com isso. De algum modo.
Mas voltando. Agradeci a todas as homenagens dos alunos, colegas de trabalho, atendentes do posto de gasolina, o Salomão na rádio cultura... sempre me emociona! Mas me senti vazia ouvindo tudo isso. Falta tanto mais do humano nessa relação homem-mulher. Falta a gente se despir desses papéis superficiais. Etiquetas de segunda mão para atender medos, inseguranças e inquietudes.
Foi um dia de luto. No peito. Esse pseudo-engajamento com a vinda do Bush e o dia internacional da mulher... A gente foi tão internacional, mas tão obviamente intencional. Esvaziado. Vi uma superfície de desejos. Nada profundo. Genuíno. Original. Vi a gente deslumbrado pela única e exclusiva idéia de reclamar, reivindicar. Não vi transformação interior, nem em homens, nem em mulheres, nem em estudantes manifestantes universitários... no trânsito. Não vi nada de novo. Nem nas homenagens, nem nas brigas.
Um vazio. Para onde mesmo a gente foi? E de que jeito? fico com medo dessas coisas muito avant-garde. Não nos preparamos daqui de dentro das torres ainda... e isso me fez lembrar de uma frase que eu vi ontem na reunião de pais da 8a série, de William James, de que hoje se sabe que é primeiro agir, e que aí ocorre o sentir, e não o contrário como se dizia... sentir, para agir...
Ainda espero o sentir... mulheres, homens, quem se prontificar.
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