Esses dias eu tenho refletido com mais seriedade do que o normal sobre o fato de ser professora. Todos os meus mestres (do bem e do mal) desfilam na minha cabeça nessas horas de puro diálogo com meus sonhos e fantasmas.
Novamente a vida me presenteou com os adolescentes. Não propriamente adolescentes, mas crianças em fase terminal... (não seríamos nós também? ok, isso é motivo para outros emails) Há quase 5 anos eu tenho dado aulas para esse pessoal. E me reencontrado com a minha própria adolescência. Já disse isso aqui... O ponto, por outro lado é que esse reencontro tem sido bastante desafiador na medida que ajustar o tom dos fantasmas e dos sonhos exige alquimia espiritual.Essa semana na terapia tenho me dado conta da participação do meu pai. Ele sempre me viu como uma filha intelectual seja lá o que isso queira dizer, na real. Com o tempo me dei conta que durante a escola eu assumi esse papel. E mesmo durante a universidade. Seja lá o que isso signifique. Acho que verdadeiros intelectuais tem mais o que fazer com esse nome. Hoje me dou conta que faltam séculos para atingir esferas assim. E não me sinto mal com isso.
Acho que esse epíteto me deu boas coisas, mas me dificultou a vida com o meu lado humano. Humano mesmo. O Juliano me disse várias vezes que eu me escondia atrás dos livros. Essa semana, na reforma do escritório me dei conta que tinha mesmo muitos lugares para me esconder. Enfim... não tem sido ruim de todo. Mas modelos se repetem... O Ulpiano, mesmo o Fernando, meu ex-namorado e outros ex-namorados... me viam como a moça intelectualzinha que estudava na FFLCH-USP e por isso mesmo sabia falar e escrever bem, discursar sobre os problemas do mundo... Meu melhor amigo, o Vinícius, me disse uma vez que eu tinha nascido para pensar. Socorro!
Acho que eu preciso nascer para sentir e viver junto com o pensar. Tenho me esforçado para coordenar os nascimentos simultâneos, mas já me dei conta que isso não é responsabilidade minha. Ok...
Voltando aos alunos... Eu percebi que ajustar o tom - firmeza+carinho+exigência é trabalho pra vida toda. Me lembro da minha adolescência querendo a atenção dos professores, o reconhecimento também de qualquer coisa que não fosse a minha cabeça pensante. É tão complicado você ser reconhecido por qualquer outra coisa na escola... só há espaço para os uqe estudam. Nada contra os que estudam, mas fiquei pensando se a gente não poderia, ou deveria, criar espaços para mais reconhecimentos. Ou se isso fica para o brilho (o nada disso) pessoal dos professores. Tive um professor de inglês que me dizia outras coisas além de "você é ótima aluna". Dimas. O Charles... acho que ele nunca me disse na época qualquer outra coisa desse tipo. Fiquei esperando... e o Sidnei. puxa, ele sim atingiu outras esferas. Acho que na universidade isso passou batido. Nem vou mencionar as coisas que o Ulpiano fala aos seus alunos. Mas comigo ele foi até bastante suave, na medida exata da compreensão dele sobre isso.
O Julio Aquino foi uma outra experiência. Não me disse nada. Me convidou a sentir esse poder da descoberta. Obrigada pelo seu silêncio.
Mas voltando aos alunos... eu dizia da dificuldade de lidar com esse mistério da educação. Como amor e ódio se alternam em sala de aula. Como o humor e a desconstrução são armas poderosas que nem sempre a gente sabe usar. Como o fato de se sentir inseguro e instável refletem na sua dança coletiva... O ajuste de expectativas...
Fiquei me lembrando da primeira escola que dei aula. Aquilo era um assassinato a qualquer proposta pedagógica. Não era permitido qualquer vínculo com as pessoas, sobretudo os alunos. Você deveria ser um mestre (no mais tradicional e reducionista do termo) e "construir" o conhecimento dos alunos - com eles, mas sem eles. Os projetos eram absolutamente utópicos, e nada se entendia sobre adolescência. Foi bom, apesar de profundamente doloroso. Me ensinou como não ser daquele jeito, como não desejar aquelas "competências" ou "habilidades" pedagógicas. Que alívio, que promessa de redenção.
Uma pena que essas cicatrizes ficam na alma. E como toda vez que fico insegura em sala eu apelo para esse fantasma do ensinar... Ainda bem que os alunos mesmos tem mostrado que pode-se educar a si mesmo.
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