Semana passada o assunto foi a visita do presidente norte-americano e o papo todo sobre o etanol e outros recursos combustíveis. Nada novo na imprensa, nas manifestações. A bomba veio com o dia da mulher em que os engajados manifestariam sua indignação sobre os maus tratos às mulheres e à presença (quase demoníaca, se dizia) do presidente americano.
Fiquei me lembrando de uma frase do Caetano sejamos imperialistas... Ora, nada mais fácil de dizer, mas tão difícil de realizar. Nossa mentalidade colonial ainda nos permite certas imaturidades civis. Contradições históricas das mais malucas que dão temas a teses e dores de cabeça. Acho que fiquei mais incomodada com a postura dos anfitriões...
Há dias venho rascunhando coisas sobre a visita do Bush. Observei a reação dos colegas, dos artistas, da imprensa. Dos estudantes. Dos meus alunos. Em todas as contestações via ali algo superficial. Detentor de uma hipocrisia lindamente desenhada. Convincente de seu engajamento. Mas tão supercialmente maquiada.
Recebi diversos emails de convite a usar preto. Manifestações. Reivindicações. Intervenções urbanas. Gente insatisfeita. Infeliz. Revoltada. Ok. Confesso que pela primeira vez em muitos anos não me deixei levar pela maré da protestantagem. Achei esquisito. Quase me senti conservadora e defendendo a guerra do Iraque. Mas não era isso. Era um estranhamento desse modelo de contestação. Um silêncio interior diante desse silêncio cotidiano. Dessa indiferença que, de tão indiferente, nos deixa acostumados a protestar quando todos protestam. E por que todos protestam? Conveniência da situação? Visibilidade? Engajamento? Ou é porque, de fato, alguma coisa nos tira da nossa imobilidade interior...
Ora, a situação no Dpto de História da USP sempre me deixou com pulgas (e outros bichinhos) pelo corpo todo. Até onde vai mesmo essa sensação de indignação? Me recordo de assembléias em que se pedia (furiosamente) a saída da ALCA, de FHC, do capitalismo e víamos os banheiros sem papel higiênico e entupidos. Sem comentários. Algumas vezes me perguntava ali onde estava o meu espírito de juventude de querer resolver o mundo. Um colega me chamou de pequena-burguês. Ok... fui investigar o termo e não me lembro de sentir nada aterrorizador com isso.
Via aquele pessoal todo reunido no bar da faculdade tomando tudo o que tinha direito (sem preconceitos, por favor), jogando truco, fazendo propostas de mudar o mundo. Pois bem. Até o Galvão Bueno poderia participar da reunião dos "intelectuais de suvaco" como diz meu pai. Não havia nada ali de mais profundo. De verdadeiro ou genuíno. Eu estava num curso de ciências humanas e via a ausência de humanidade ali. As pessoas não se relacionavam. Não vi sentimento nem propostas renovadoras de si mesmos. Tudo era exterior. Continuamos exportando-nos de nós mesmos...
Isso me deixava muito quieta na faculdade. Apesar de fazer o gênero cdf, ou mesmo esquisita como dizia o Max, não estava à parte dessas discussões. Mas eram discussões que chegavam à cabeça. Nada ao interior...
Acredito que a gente repete o que aprende. Brigar com o Bush é mais fácil do que olhar para o nosso jeitinho brasileiro e e brigar com a nossa falta de cidadania. - acabei de pensar que escrevo o óbvio! nada original e talvez eu mesma me repita - Sabemos mais da constituição americana do que da nossa. Sabemos da 5a emenda, mas desconhecemos os direitos do consumidor, as leis trabalhistas. De que adianta a briga para tirar os americanos do Iraque, assistir os Simpsons, South Park? tem um repique em mim... ando querendo mais.
Tom com saudades de uma coisa que não vivi. Disse o Érico. Há 8 anos atrás. Eu nem sinto saudade. Mas sinto falta. E o Bush foi embora. E sobraram algumas pixações. O trânsito voltou ao normal, o exército aos quartéis. Os estudantes, às salas de aula e suas discussões sobre o futuro. E eu voltei a escrever. Fico esperando como a gente continua esse livro...
segunda-feira, março 12, 2007
a visita do Bush
Postado por Srta T às 9:28 AM
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Um comentário:
"Estava num curso de ciências humanas e via nada de humano ali."
Entendi que vc quis dizer que via ausência de reflexão e sensibilidade profundas. Você via a essência dos problemas da humanidade naqueles que estudam suas conseqüências...
Seu post se indigna com a maria-vai-com-as-outras. Como é difícil controlar essa maria dentro de nós...
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